Diamantino Gonçalves, fotógrafo *
A magia da região do centro do país encostada à fronteira habita nomeadamente na criatividade dos que se ocupam da produção hortícola, gente que constrói uma arte singular tipicamente beirã…
Onde o declive do terreno é mais acentuado, a tarefa do “combrorar” a terra é repetida anualmente. É assim cortada todos os anos uma tira de terra no fundo da horta, a toda a sua largura, e incansavelmente transportada para o topo da mesma. Tira de terra, que com a rega e a sacha, se precipita para a zonas mais baixas, ficando aí como um concentrado rico em húmus.
De todos os meios que produzem a nossa subsistência, é nas hortas que a magia e a sensibilidade do homem moderno se sente mais. Ali estão patentes saberes e sabores reunidos, técnicas da rega e separação dos vários tipos de vegetais, ordenados de modo a evitar ventos e parasitas, que os tempos ensinaram também a visitar as hortas…
Jardins e hortas são criações que datam de há séculos. Em tempos imemoriais, proprietários mais ricos faziam construir jardins ornamentais que eram autênticos espaços de manifestação do luxo. Na Idade Média, os jardins dos mosteiros constituíam um espaço destinado a cultivar plantas medicinais, ervas aromáticas bem assim como comestíveis.
Numa horta dos nossos dias é possível encontrar desde vegetais a frutas, ervas aromáticas e flores. O desenho de uma horta nalguns caso mais parece obra de arte, a disposição dos produtos adquirindo por vezes desenho e colorido mágicos. As estruturas de empas para o cultivo vertical, empalhamentos para manter a humidade e retardar o aparecimento das ervas daninhas, oferecem-nos rasgos de saberes acumulados que variam de região para região.
A história alimentar humana espelhada nas variedades vindas dos quatro cantos do mundo, acarinhada por vezes em escassos metros quadrados, propõem-nos de facto um retrato em miniatura do universo.
Em canteiros ou em bordadura, aqui ficam as minhas hortas da Beira, a que alguém ousou mesmo chamar os novos jardins suspensos…
* Técnico de óptica ocular, Diamantino Gonçalves tem elaborado um vasto trabalho fotográfico de fundo sobre a Beira Interior. A sua notoriedade ultrapassou as fronteiras nacionais, tendo publicado vários documentos em magazines especializados estrangeiros.
