Na capital nacional como nos média “nacionais”, o Portugal “do interior” pouco conta. Há no entanto neste “interior” gente cuja qualidade do trabalho e da reflexão merece vir a público e dar lugar a debate…
Países há na Europa onde viver “no interior” constitui uma oportunidade, uma escolha de estilo de vida. Longe do megapolismo da capital nacional, dos seus gigantismos, das suas agitações, da quase ausência de convivialidade. Até porque existem nas cidades “do interior” equipamentos sociais e culturais comparáveis aos da capital nacional, é possível usufruir de uma qualidade de vida melhor, de um ritmo de vida mais sereno e de uma sociabilidade incontestavelmente mais forte.
Em Portugal, ao contrário, viver “no interior” constitui, no imaginário coletivo, como que uma degradação social. “Portugal é Lisboa, o resto é paisagem”, dizem com arrogância ou ironia os lisboetas. E de facto, optar por uma vida no Portugal “do interior” é ver-se confrontado a uma espécie de desterro, longe de tudo. Longe dos grandes centros de decisão. Longe dos equipamentos sociais e culturais mais elementares. Longe dos eventos com maior relevo.
Mas viver no Portugal “do interior” constitui também uma quase impossibilidade de fazer-se ouvir nos média de Lisboa e nos círculos onde se tomam decisões importantes. O que é tanto mais insuportável que os meios dirigentes políticos, económicos, sociais e culturais do país pouco se inquietam com o Portugal “do interior”, com as preocupações das suas gentes, com os seus problemas de vida quotidiana, com as suas reivindicações e ambições.
Notas de Circunstância nasce pois para dar voz aos que vivem no Portugal “do interior” e mais particularmente aos que escolheram fazer da “Beira Interior” o seu espaço de vivência, a sua terra de eleição. A todos os que se interessam por temáticas próprias a este espaço geográfico e humano. Trazendo a lume estudos e análises, reflexões, produções artísticas e documentos que, em muitos casos, dadas as temáticas, pouco interessariam os média “nacionais”. Dando ainda o ensejo a que problemáticas mais especificamente regionais venham a constituir temas de debate democrático, sem pretensões de verdades absolutas, mas abertas a uma confrontação aberta e tolerante.