Da colheita à transformação em fios, o linho atravessa “sete martírios” antes que deles se obtenham panos ásperos ou finos, escuros ou branquinhos. Os panos em linho fazem desde sempre parte dos tesouros das famílias da Beira, antes da revolução industrial como ainda hoje, quando são tratados pelo modo artesanal.
Perdida a sua floração azul celeste, o linho está pronto para ser colhido e transformado. Arrancado pelo S. João é ripado, separadas as sementes para renovar a sementeira e fazer algumas mezinhas (da chamada linhaça). O que fica passa à maceração em água corrente. “Tudo no linho é natural” : depois de seco e estrigado, tascado, espadanado e urdido, é estendido ao sol e sedado até se transformar em fibras finas e suaves.
Separado o linho da estopa, é fiado e dobado por mãos hábeis junto à lareira. Fica em vistosas e femininas meadas trançadas, e começa a tomar forma. Ainda voltará a banhos sem química para se tornar branco com a barrela em cinza. E ainda irá também ao forno (como se faz ao pão) e ao sol a corar (como com a roupa lavada), antes de “dar um salto” daí até ao tear.
Depois é vê-lo como base em tantos dos trabalhos manuais, das obras de arte manuais da nossa Beira, como nos bordados de Castelo Branco. Porque, da túnica ao bragal, do altar ao enxoval, tudo no linho é natural e de boa linhagem…
Uma reportagem realizada em Almaceda (concelho de Castelo Branco), em 29 de junho de 2013.