Carlos Matos, professor no Agrupamento de Escolas Nuno Álvares, Castelo Branco *
Num mundo onde todos correm e procuram apenas fragmentos e instantâneos no que os rodeia, é um privilégio poder-se parar num lugar, com tempo, reduzir a velocidade, estar a sós connosco próprios e, sem perturbações, assistir ao espetáculo que a natureza oferece…
Fotografar primeiro sem máquina. Procurar os lugares, por vezes espantosos no seu todo, mas nem sempre. Lugares que podem esconder tesouros de beleza. Dependendo de como os vemos ao longo do dia, em diferentes estações, ou da visão seletiva de quem fotografa. Muitos passariam por eles sem lhes dedicar sequer um segundo.
Fotografar não é copiar o mundo. Por essa razão, não procuro nas minhas fotografias descrever ou representar tudo o que vejo ou fazer somente uma cópia do que está à minha frente. Procuro sim sugerir alguns elementos, interpretá-los (passando-os pelo crivo da mente humana, com o meu sentido estético, acumulado através das leituras que faço, dos filmes e fotografias que vejo, das exposições que frequento, da música que ouço) e usá-los como catalisadores para a minha própria imaginação, na esperança, também, de sugestionar a de quem as vê e prender a sua atenção.
Com as longas exposições consegue-se fotografar o que é impossível o olho humano ver : o tempo. Vemos na realidade a água em movimento, mas com esta técnica parece-nos parada. Ou as nuvens que aos nossos olhos não se movem, ou movem devagar, e na fotografia descrevem movimento. Os movimentos da água e da atmosfera criam efeitos inesperados, provocando enormes contrastes entre o que permanece estático, com o restante cenário que transmite movimento. Como no Poço do Inferno…
* Nascido em Salgueiro do Campo (Castelo Branco), diplomado em design de equipamento geral pelo Instituto de Arte e Design (Lisboa) e licenciado em design de comunicação e produção audiovisual pela Escola Superior de Artes Aplicadas (Castelo Branco). Professor de artes visuais, é paralelamente fotógrafo, ilustrador e grafista.
