J.-M. Nobre-Correia
Para o observador atento, era evidente que as televisões ditas “nacionais” eram essencialmente lisboetas. Um estudo recente vem demonstrar que o resto do país quase não existe…
Por ocasião de um recente congresso na Universidade de Coimbra, a Prof. Felisbela Lopes, da Universidade do Minho, fez uma interessante comunicação. E nesta comunicação evocou “a confraria que domina os plateaux informativos da TV portuguesa”.
Partindo de uma pesquisa sobre a “programação informativa” das três televisões generalistas (RTP 1, SIC e TVI) e das três de informação (RTP Informação, SIC Notícias e TVI 24), de segunda a sexta-feira, entre as 18h00 e a 1h00, de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, Felisbela Lopes constata que 74,4 % dos intervenientes provêm da região da Grande Lisboa. A presença da gente do Norte é modesta mas sensível nas duas televisões públicas e quase inexistente nas privadas. Enquanto que as outras regiões do país obtêm resultados próximos da ausência, do zero !
Para além de outros aspetos interessantes, este estudo tem como virtude quantificar aquilo que parecia evidente ao observador mais ou menos atento. E sobretudo ao que, habituado a outras paragens e a outras televisões, vê nas televisões portuguesas (mas também nas rádios, nos diários e nos periódicos ditos “nacionais”) uma das ilustrações trágicas do centralismo megalómano português.
Porque, em matéria de televisões, as coisas conceberam-se como quase sempre se concebem em Portugal. Pelo que era uma “evidência” que as televisões “nacionais” deveriam ter todas as suas sedes em Lisboa. Quando os modelos alemão ou até mesmo italiano, e porque não os da britânica ITV, da francesa France 3 ou do “terceiro canal autonómico” espanhol, poderiam ter inspirado os legisladores, os governantes e os membros das sucessivas altas autoridades na matéria. Obrigando as novas televisões (assim como as rádios) a instalarem-se em cidades “de província”. E obrigando-as até a programar as emissões de informação a horas diferentes.
As empresas de televisão (como de rádio) constituem polos de dinamização social, cultural e económica das regiões onde estão sediadas, oportunidade que (como em muitos outros sectores) foi uma vez mais desperdiçada. Para além de que, com televisões (e rádios) decentralizadas, espalhadas equilibradamente através do território, teríamos inevitavelmente uma abordagem da informação diferente, vista segundo ângulos diversos dos que presidem à sua conceção a partir da capital nacional. Quando a situação atual faz de facto de Lisboa o umbigo em torno do qual gira o país, limitando escandalosamente o horizonte da informação…