Editorial Guerrinhas pueris

J.-M. Nobre-Correia

O desagradável clima de declarações, manobras e hostilidades que reina entre altos representantes de autarquias, estabelecimentos de ensino superior e instituições médico-hospitalares da Beira Interior, não deixa antever nada de bom para a região…

Vistas de longe, à devida distância, as querelas atuais entre instituições de ensino superior, médico-hospitalares e autárquicas da Beira Interior tomam contornos deveras pueris. Ou melhor : homens encarregados de representar umas e outras fazem por vezes, demasiadas vezes, declarações que têm grandes parecenças com as poses dos galos dominantes nas capoeiras. Para eles é primordial fazerem saber que existem e afirmarem uma pretensa supremacia no seio na bicharada.

Só que, com atitudes caraterizadas muitas vezes pela irresponsabilidade, representantes de algumas das instituições mais importantes da região mais não fazem do que fragmentar e fragilizar a capacidade de afirmação da Beira Interior. E menorizam assim, desde logo, o potencial de reivindicação desta perante o governo nacional, a sua cegueira e a sua surdez.

Continuar a brincar a velhas guerrinhas oratórias entre cidades e a protagonismos que mais derivam de ambições arrivistas e projetos de vida puramente pessoais, são atitudes inaceitáveis numa sociedade que se quer democrática. Isto é : numa sociedade em que os eleitos (qualquer que seja o corpo eleitoral) são antes dos mais representantes dos que os elegeram. Embora a memória esquiva dos cidadãos eleitores os leve, nas devidas alturas, a esquecer de pedir contas aos que cuidam antes do mais das suas vidinhas e não do interesse público.

Ora não pode haver dúvida que para conseguir ultrapassar a sua fragilidade em termos de ensino superior e de assistência médico-hospitalar, assim como de infraestruturas económicas e socioculturais, os representantes das instituições públicas da Beira Interior têm que ser realistas e terem o sentido das responsabilidades. E não é de guerrinhas fúteis entre autarcas das cidades da Beira Interior (para falar apenas delas), representantes dos estabelecimentos de ensino superior e de instituições médico-hospitalares que resultarão projetos coerentes de desenvolvimento. Projetos capazes de evitar a desertificação e, mais do que isto, de afirmar uma região onde seja bom viver, onde jovens, adultos e gente vinda de outras partes desejem instalar-se.

Neste contexto deplorável, seria bom que a imprensa regional não entrasse em práticas de sensacionalismo lança-chamas e não se deixasse instrumentalizar por quem apenas procura servir-se dela, e não informar os cidadãos. Como seria bom que os altos representantes de instituições públicas essenciais não esquecessem que o objetivo principal dos seus superiores hierárquicos em Lisboa, que nos ministérios ou nos partidos “tiram os cordelinhos”, é provavelmente, deliciadamente, dividir para continuar a reinar…