Editorial O indispensável entendimento

J.-M. Nobre-Correia

As instituições de ensino superior da Beira Interior têm o dever de fomentar o desenvolvimento da região. O que supõe uma coordenação capaz de fazer delas um polo de excelência em termos de ensino como de investigação…


No início de abril, a Universidade da Beira Interior assinou dois acordos. Num caso, integrando “um consórcio que tem como base o programa Erasmus +” de que fazem parte as universidades de Coimbra e Aveiro, o Instituto Pedro Nunes (de Coimbra), a ITGrow (de Taveiro, Coimbra), a Câmara de Aveiro e a Comunidade Intermunicipal das Beiras e da Serra da Estrela. Noutro, estabelecendo um acordo com as universidades do Minho e Porto para partilharem “candidaturas a fundos comunitários, no quadro do Horizonte 2020”.

Dando conta deste último acordo, o Diário de Notícias de 10 de abril evocava no entanto “a possibilidade” de as três universidades “virem a avançar para uma fusão semelhante à que aconteceu entre a Clássica e a Técnica, não está descartada, mas também não terá lugar no futuro próximo”. E esperemos que isso não venha sequer a acontecer num futuro longínquo…

Os acordos anunciados permitem, no mínimo, dois comentários inevitavelmente contraditórios. Numa primeira perspetiva, os ditos acordos significam que a UBI procura absolutamente sair de um certo isolamento geográfico e cooperar com universidades que se afirmaram de maneira mais evidente no panorama universitário português, por simples razões históricas ou por razões ligadas às dinâmicas económicas e demográficas das regiões em que estão sediadas. Não impede que as relações de forças sendo o que são entre estas diversas instituições de ensino superior, estes acordos significarão que a UBI passará a ser o parceiro geograficamente marginal e inevitavelmente subalterno.

Quanto à perspetiva de “fusão” evocada pelo Diário de Notícias, isso significaria a constituição de um contrapeso positivo à macrocefalia universitária lisboeta (com as suas demasiado numerosas instituições de ensino superior). Mas significaria também que a UBI passaria a ser um simples polo centro-oriental da teoricamente futura grande universidade noroestina, e mais exatamente portu-bracarense.

Ora, se o desenvolvimento das suas regiões constitui uma das grandes prioridades das instituições de ensino superior “do interior” do país, estas instituições deveriam privilegiar a cooperação entre as que se situam ao longo da fronteira este. Reunindo Bragança, a Guarda, a Covilhã, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja numa comunidade capaz de uma séria coordenação científica em termos de ensino como de investigação. E capaz de constituir uma frente reivindicativa perante as instituições da faixa litoral e sobretudo perante Lisboa, obrigando a administração central a deslocalizar para “o interior” o excesso de instituições de ensino e de investigação da capital.

Num plano mais estritamente regional, é absolutamente indispensável que a Guarda, a Covilhã e Castelo Branco coordenem as áreas de especialização pedagógica propostas nas suas instituições de ensino superior, assim como os projetos de investigação que nelas poderão ser conduzidos, no seio de uma Academia de Beira (Interior). Uma Academia cuja preocupação principal deveria ser a criação de uma proposta original em termos de posicionamento pedagógico e científico norteado pela qualidade, o rigor e a exigência, de modo a afirmar-se não só no plano nacional como no ibérico e no europeu. Com o seu escol de professores e investigadores de renome, e uma excelência invejável de ensino e de investigação. Só assim a desertificação poderá ser evitada e se poderá provocar uma inversão do ciclo de desenvolvimento em termos económicos, culturais e sociais…